sexta-feira, 25 de maio de 2012


Recebi ontem, de um amigo, um e-mail de agradecimento por fazer parte da vida dele, encaminhado também para mais amigos.
Fiquei pensando que a vida passa rápido e lembrei-me de uma conversa que tive com minha avó, recentemente falecida.
Certo dia ela disse que, no tempo de sua mocidade, visitava-se com certa frequência os amigos. Era uma dedicação formal, uma prática social. Vestiam-se com esmero para tal. Tomavam o trem ou bonde e ainda caminhavam muito para visitar outra família amiga - ou um parente. Motivo de confeccionar quitutes e bolos deliciosos. Motivo de festejos. E seguia narrando, não para mim, mas para ela mesma, com saudosismo na voz, fitando o horizonte, com riqueza de detalhes: precisavam ligar para um vizinho da rua e pedir para chamar quem gostariam de falar para marcar a data; os sapatos eram engraxados e polidos um dia antes; as roupas, engomadas; preparavam com antecedência guloseimas para presentear o anfitrião; e a benção era pedida quando do encontro.
Percebi que ela revivia o momento. Continuava sua história até que comentou, em tom de queixa, que hoje em dia nós tínhamos muito mais facilidades e nos encontrávamos somente nas datas festivas, rapidamente. Possuíamos carros, telefones, metrô, muitas linhas de ônibus e agora telefones celulares, mas nunca tínhamos tempo de, ao menos, realizar uma ligação para dar um oi. A queixa não era só por não visitarmos mais frequentemente sua casa. Tenho certeza que fazia referência à falta de comunicação entre nós mesmos, parentes próximos. Tive um mal estar por saber que ela estava certa e que, mais que correria diária, era pura falta de interesse e descaso, essa nossa carência de preocupação com os mais chegados, afinal, quando queremos mesmo, fazemos acontecer.
Bom, narrei isso tudo para dizer, ainda que virtualmente, àqueles que não vejo com muita frequência que, apesar da distância, apesar desse descaso, tenho todos em alta estima.
Tenham uma excelente semana...

=]

Visite os amigos com frequência. O mato cresce depressa em caminhos pouco percorridos.
Provérbio escandinavo.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

máscaras





Sei que não devemos dizer que conhecemos as pessoas e que elas, por isso, inevitavelmente, irão nos desapontar, mas é sempre decepcionante descobrir que não conhecemos...

Haverá ainda alguém de nosso convívio íntimo que poderemos bradar convictamente, aos quatro cantos “Não! Eu conheço fulano! JAMAIS faria isso...”?  Haverá? Haverá alguém que passe pela nossa vida e faça com que a crença de que existem pessoas sem hipocrisia (ou menos hipócritas), pessoas que não usem máscaras, pessoas que não finjam, não adulem, sejam verdadeiras e não personificadas em anjos? Haverá? Claro que não. Hoje me vejo fingindo – que acredito, que não acredito, que gosto, que não gosto, que me importo ou não – e sigo, ainda a revelia do meu ser, meu caminho. O prejuízo por estar rodeado de pessoas assim é devastador. Amarrotam, como papel, a fé na credulidade de existirem pessoas que sejam confiáveis, e sabemos que papel amassado não volta à sua forma original.
Gostaria muito de afirmar para mim mesma que essa fé é inabalável, mas estaria sendo hipócrita – e usando mais uma das muitas máscaras que, forçosamente, aprendi confeccionar...




"Que a vida é em parte um baile de máscaras com as quais nos seduzimos uns aos outros, e nos enganamos diante do espelho, é sabido. O perigo reside na hora em que a última das máscaras cair, e tivermos de ver, nos grandes espelhos, um rosto preso ao nosso corpo, mas que parece não ter nada a ver conosco." Lya Luft




quinta-feira, 29 de março de 2012

Parte II - Saga da Janela Indiscreta.

E não é que, por força bem maior que minha vontade, cedi a encobrir minha janela com uma cortina?
Tô lá, zanzando na minha sala, coberta dessa vez por duas peças íntimas, mas comportadas, quando "sinto" olhares indiscretos. Dou uma espiada para fora e vejo o folgado do vizinho quase caindo da sua sacada, bisbilhotando a minha.
Parei na janela, com as mãos na cintura e falei alto:
- Perái, que sua mamata vai acabar, viu? - gesticulando a mão com o dedo em riste!
Me vesti correndo e saí.
Comprei um varão, buchas, parafusos e todos os apetrechos para colocar uma cortina.
Munida de furadeira, brocas e martelo, instalei o varão e triunfantemente, cerrei o tecido da cortina, vagarosamente, como quem saboreia uma vingança em um prato congelado. Pronto! O show de corpos em peças íntimas acabou.
Se eu me senti melhor? Nada... Me senti mais invadida ao ter que usar de um recurso, sem a mínima vontade, para afastar olhares indiscretíssimos da minha vida - a mesma sensação quando da colocação de grades nas janelas - perdi a minha privacidade e liberdade de escolha.
"...as grades são para trazer proteção, mas também trazem a dúvida se é você nesta prisão..."


É como dizem...a gente erra tentando acertar e nesses desacertos é impossível não sair ferida.
Só foi o meu melhor...

=[





quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012


Depois de passar por maus bocados com relação ao pouco caso de médicos e funcionários de hospitais, há menos de um ano, o mesmo azedume viemos experimentar.
Minha avó vem definhando neste último ano, mesmo sendo assistida por geriatras. Atribuíam à perda de apetite sua idade. “Velhinho é assim mesmo... vão ficando magrinhos, difíceis para comer, esquecidos...”.

Acreditamos nesta ladainha de senilidade. Minha avó mal parava em pé e um passarinho comia muito mais que ela. Briguei para passarem uma sonda nasoenteral, achando que os médicos tinham razão e ela se recusava a comer como uma criança birrenta. Ao saber disso, ela mesma prometeu comer melhor e mais que o atualmente. Ficamos felizes. Eis que não mais que uns dias em cumprindo sua promessa, relata dores abdominais absurdas, e é levada às pressas ao hospital, lá ficando.
Acharam melhor realizarem uma bateria de exames – exames nunca antes pedidos pelos geriatras. Nossa surpresa: ela está morrendo de câncer, com metástases por todo corpo.

Minha descrença  nesses médicos é tamanha que sequer tenho forças para qualificá-los. Estou juntando todos no mesmo saco, epigrafado “mercenários”, pois é assim que vejo, novamente estarrecida, a posição sem comprometimento com o juramento que eles fizeram. Médicos não podem errar, ainda que errar seja humano. Se puder pecar por algo, seria pelo zelo.

Minha avó será só mais um número, em estatística aviltante, do descaso dos profissionais médicos.
Mas por que se importariam? Eles vão almoçar, todo domingo, na companhia de suas próprias mães, né?

Que sua partida, Mama, seja a mais tranqüila possível...

=[

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Correndo na contra-mão da educação de hoje em dia, com o culto ao fútil, inútil e o desrespeito ao semelhante, provo que é possível deixar filhos melhores para esse mundo. Eu faço a minha parte, dizendo não quando oportuno e mostrando que, nessa era digital e informatizada, é possível ter diversão saudável.
A foto abaixo é de uma página do caderno da minha filha de quatorze anos, tentando organizar a festinha de aniversário dela, em dezembro de 2011. Neste final de semana, separando livros e cadernos usados para doação, encontrei esta folha no meio de um deles e não resisti – precisava registrar, pois o orgulho me invadiu.
Tô até inflada, de tanto orgulho!

=]




segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Continuar!

Dia 31/12 dei uma passada no consultório por volta das 18h30 porque esqueci umas comprinhas lá. Deixei o carro na calçada por preguiça de abrir a garagem. Ao sair, uma senhora negra, trajando biquíni e canga, suja e com cara de poucos amigos, com uma sacolinha de supermercado na mão, me abordou. Disse que estava perdida e perguntou se eu podia ligar para alguém da família dela. Entrei em pânico, reação isntintiva pós-assalto recente, pois a rua estava vazia, apesar do dia claro pelo horário de verão. Eu segurava minha bolsa pela alça e tive um branco na mente - sequer saí do lugar. Talvez vendo minha reação esquisita, a mulher repetiu a pergunta. Tirei meu celular da bolsa e pedi o número, mantendo distância segura. Liguei, comentando que as ligações estavam difíceis de completar devido fim de ano, enquanto ela relatava o motivo de estar perdida. Eu informei que não havia conseguido completar a ligação e ela começou a chorar. Ficou nervosa e falava sem parar e desconexa. Acehi inclusive que podia estar alcoolizada. Repetia que estava andando há quatro horas e que tentava chegar no posto de combustível X que era próximo da casa que alugaram para o ano novo. Eu indiquei o caminho do tal do posto, que ficava uns dez quarteirões de onde estávamos. Ela agradeceu e foi andando. Esperei se afastar bastante e entrei no carro. Dei a partida e fitei aquela mulher, andando e chorando, falando sozinha, e me coloquei em seu lugar. Minha cosnciência não permitiu que a deixasse ir naquele estado, sendo de tão longe.
Parei o carro ao seu lado e pedi que entrasse, oferecendo uma carona para procurarmos a casa ou deixá-la no posto para que alguém pudesse encontrá-la. Logramos êxito na busca e ela desceu do carro feliz, agradecendo e me desejando tudo de bom. Esperei entrar, acenei em despedida e tomei meu caminho. Tive uma crise de choro na esquina. Senti que hoje em dia é difícil ajudar estranhos pois não confiamos mais. Fiquei péssima por ter relutado em ajudar e depois péssima porque se ela fosse uma maluca qualquer talvez eu nem estivesse aqui pra contar. Esse conflito de sentimentos me fez mal durante algumas horas e pensei, cá com meus botões, que aquela alegria que sempre me fez parar o carro, pular muros, subir em árvores ou qualquer outra atitude para ajudar alguém desconhecido ou um animalzinho, foi substituída pelo receio. Titubeei, pela primeira vez na minha vida, em ajudar alguém. Não gostei disso. Reflexo deste mundo egoísta que vivemos. Não quero ser essa pessoa. Não quero ser alguém que filma o cãozinho sendo espancado até e morte e não reage. Não quero ser como os chineses que atropelam garotinhas e matam simplesmente por ser mais barato o enterro que as despesas com hospital. Não, eu não vou mais titubear, hesitar ou vacilar na hora me que estranhos precisam de mim. Vou continuar ajudando, ainda que encontre alguém intencionado em me fazer o mal. Não serei como esses seres humanos que não se importam mais com o semelhante. Vou ter moral e decência e continuar fazendo o bem sem olhar quem, do jeitinho que cresci vendo minha mãe fazer. Apesar do conflito nos sentimentos, minha virada foi muito melhor pois sabia que tinha ajudado, de forma simplória, alguém a estar naquela noite como eu, com quem amava. Percebi algo de bom nesta história e em 2012 eu quero fazer um só pedido: continuar sendo quem eu sou.

Feliz e maravilhso 2012!
=]

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

...é só tristeza...


Me entristeci com pessoas e seus atos ruins e cruéis. Chorei. Morri por dentro. Me culpei. Perdoei.
Nunca entendi porque a honestidade nos sentimentos é dificil para a maioria dessas pessoas ou porque é mais fácil maltratar e destratar, ferindo a alma, além do coração, do que olhar nos olhos e, mesmo emudecido, dizer o que passa no íntimo. Não entendo porque não gritam o que sentem a pleno pulmões ou, acanhados, sussurram. É incompreensível para mim a facilidade com que causam sofrimento, injuriam, agridem, ferem, conscientemente e intencionalmente - mas nutrem uma dificuldade em, antagonicamente e proporcionalmente, proferir palavras de acalento, lisonja, adulo e agrado.
 
=[
 
 

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

as flores de plástico não morrem...

Perpetuando uma das minhas paixões, ainda amadora, o cultivo de orquídeas. Enjoy!

Triste realidade


Se tem assunto que me deixa triste é a falta de informação sobre saúde e educação.
Ver uma criança, em pleno Séc. XXI, com os dentes nesta condição me desola. Hoje atendi esta menina com dois anos de idade - e a mãe só pediu para "dar uma olhada" pois "achava" que seus dentes estavam "estragando".
Discursei sobre a importância da dentição, em qualquer fase de nossa vida, além da saúde prejudicada pela bacteremia transitória, inclusive com alusão ao jogador, recentemente morto por endocardite bacteriana causada por infecção dentária, mas desisti ao ver que a mãe estava com o olhar "no firmamento", balançando a cabeça afirmativamente automaticamente, pois sabia que estava entrando por um ouvido e saindo no outro. Me recusei a atender a menina, não por capricho, mas por ser tratamento longo e difícil (tive minha cota de crianças difíceis este ano). Encaminhei a um odontopediatra. Tive o cuidado e zelo de explicar como seria o tratamento por lá, até para justificar minha recusa, e o quanto oneroso ficaria e os blás, blás, blás de sempre. Tudo em vão. A única resposta balbuciante da mãe era a preocupação com o custo. Aí, vem a pergunta fulminate: e se arrancar eles?
Dá desânimo. Odontologia, no mundo todo, é uma especialidade médica pouco levada a sério, mas em países pobres ou "emergentes" como o nosso, nem levada é, quanto mais a sério.
Ainda imagino que chegará um dia em que dentes serão deixados em minúsculas salas de labs, onde algum profissional, que não deverá ser chamado de dentista, tratará e em horário previamente agendado, o cliente volta e tem seu dente recolocado - tipo uma oficina. Sr., esta semana estamos lotados devido as festividades de fim de ano. Se o Sr. quisesse comer o peru de Natal deste ano, deveria ter agendado com mais antecedência, diria a atendende do setor de agendamento.
Até lá, ainda rezo para que as pessoas se conscientizem e cuidem da boca, pois sempre prevenir é o melhor remédio - e no caso da odontologia, mais barato: pasta, escova e fio dental, no mínimo três vezes por dia.


=[

domingo, 9 de outubro de 2011

Que vejo flores em você!


Estou sem postar aqui por mais de 1 ano. Andei sem vontade, desanimada. Não posto, mas escrevo, e muito. Tô voltando hoje e conforme o tempo for aparecendo – e a vontade crescendo – vou colocando aqui o que vem acontecendo comigo e talvez no mundo, minhas percepções das verdades ditas por aí.

Vou começar com o assunto Gisele e o comercial da Hope, e o tal de sexismo e exploração da imagem da mulher sempre pejorativo, mesmo que esteja esgotado, mas não no sentido de apontar o quanto a maioria dos homens, notadamente, são sexistas, pois isso todos sabemos. Quero reclamar o quanto nós, mulheres, temos culpa neste cartório – de educar os homens para serem sexistas e machistas. Sou, orgulhosamente e notoriamente, feminista desde pequena, visto o ambiente masculinizado em que cresci. Lá, os meninos podiam tudo e eu, quase nada. Almoços de domingo, longos e cheios de louça, era sinal claro das diferenças em nossas educações: meninos não lavam louça. Meninas sim. Meninos não limpam fogão. Meninas sim. Meninos não passam pano no chão. Meninas sim. Acho que o medo de que, se eles tivessem esse tipo de tarefa, os deixasse menos homem, sobrepujava a justiça que deveria imperar sobre divisão de tarefas a serem realizadas por nós – ou talvez fosse mesmo só cultural – minha mãe aprendeu com a mãe que aprendeu com a mãe e assim ficou estabelecido, pois lá na era dos primeiros homens, as tarefas foram definidas por diferenças físicas (alguém duvida que os homens eram e são mais fortes, muscularmente falando?) Justificável para aquele tempo, onde a mulher paria sem parar, tinha a prole enorme e precisava ficar de olho nas crias, enquanto o parceiro ia à caça, para subsistência do grupo. Então, era uma época primitiva.
Sigo, estarrecida e chocada, amigas próximas educando seus filhos neste mesmo padrão de “machismo”. Não usa rosa ou qualquer cor que lembre menina; se a menina peida na mesa, é repreendida veementemente, se acontece com um menino, a bronca é seguida de risos e incentivos, geralmente pela ala masculina, para arrotar também. Meninos pequenos são incentivados a passar a mão nas amigas da irmã mais velha ou da mãe, seguido por risadas e frases como “esse aí vai ser garanhão”, mas se uma menina pequena é flagrada, por curiosidade, mexendo nas partes íntimas de um menino, é surrada. São esses comportamentos sexistas que acabam gerando esse desrespeito com a mulher, ao ponto de, esta semana, centenas delas saírem às ruas, brasileiras em Portugal, para protestar e pedir que as autoridades façam algo para coibir a mídia que as expõe pejorativamente, como se mercadoria fossem. Esses comportamentos na nossa infância e que parecem inocentes, geram os preconceitos de hoje, contra mulheres, homossexuais, pessoas com necessidades especiais etc.
Está nas mãos das mulheres, que geram e educam e criam, modificar este pensamento e deixar homens (e mulheres) mais respeitadores, mais educados, mais elegantes neste mundo. Não há problema nenhum em dizer aos meninos, desde pequenos, que eles não podem bater em ninguém, que dirá nos menores e nas meninas. Para corroborar este meu pensamento, exemplifico com uma história que escutei recentemente de um amigo. Disse-me que seu pai, homem educado e elegante, era capaz de ficar muito tempo em pé no restaurante, mesmo com mesas vazias, só para esperar uma em que pudesse colocar sua mãe e irmã de frente para a porta de entrada, visto as mulheres que eram colocadas com as costas para a entrada era porque, geralmente, o acompanhante queria esconder, assim, quem entrava não poderia reconhecê-las. É antiquado, mas nota-se, nos detalhes, o tipo de educação que este meu amigo recebeu, onde a mulher não só era tratada como ser humano, mas valorizada na sua importância social.
É isso. Meu pitaco está dado. Pena que Ele não me presenteou com meninos.
Mulherada, está em nossas mãos essa revolução no comportamento do ser humano. Se conseguíssemos deixar pessoas mais educadas, elegantes, sinceras, neste mundo, não teríamos guerras, fome e muitas das mazelas que aí estão. Imagina uma legião de homens que abrem as portas dos carros, dos restaurantes, que mandam flores sem data especial, que não agride, verbal ou fisicamente, que enfim, trata a todos, não só mulheres, com respeito, elegância, educação, civilidade, delicadeza e cortesia.   Ah...como é bom sonhar!

=]


Insensível

Ano passado, antes do acidente com meu irmão, costumava tomar meus cafés pela manhã, religiosamente, em uma casinha de café perto do meu consultório, pois não tinha mais companhia matutina (minha filha passou a beber um iogurte ou um achocolatado, correndo, enquanto ainda colocava o uniforme).
Pela assiduidade, passei a cumprimentar algumas pessoas, habitués do local, primeiramente com um aceno de cabeça, que evoluiu para verbal e depois, naturalmente, as conversas corriqueiras aconteceram. Destas pessoas, um senhor, com voz de locutor de rádio, era quem mais puxava assunto.
Trocamos informações sobre nossas profissões e fiquei deslumbrada pela vida deste homem – nunca procurei saber se era verdade – pois dos altos de seus quase 70 anos, havia feito de tudo um pouco e casado, segundo ele, com mulheres lindíssimas, misses e modelos. Viagens a países exóticos, festas faraônicas, além de amigos influentes e famosos, povoavam seu mundo. Narrava sua vida com tanta riqueza de detalhes que cheguei a ficar com certa inveja por ter passado pela minha sem essas aventuras todas. Poderia ter virado um filme de aventura, romance, discórdia e superação, com direito a seqüências quase infinitas, ou livros, ou seriados. Deve ter sido um homem bonito, pois é alto e olhos azulados, pele morena e cabelos escuros, não totalmente brancos, e ainda conserva o ar de homem elegante e educado. Sua voz de trovão deve ter arrasado corações, assim como os poemas declamados entre pausas nas conversas, demonstrando ser um galanteador e romântico.
Um dia pediu o telefone do consultório e entreguei um cartão, onde constava inclusive o número do meu celular.
Ligava vez em quando e, sempre educado, conversávamos sobre assuntos fascinantes e variados (tenho verdadeira paixão por amizades que me excitam intelectualmente e procuro fomentá-las), por minutos que cresciam ao longo dos dias.
Até que os elogios sobre minha aparência e “inteligência” começaram a extrapolar a esfera da amizade. Passou a ser inconveniente com suas ligações repetidas, a qualquer hora do dia ou da noite. Aparecia no consultório, com a desculpa de que eu trabalhava muito, para me levar em um restaurante assim ou assado, e beber este ou aquele vinho. Mesmo que eu atendesse ao telefone e falasse claramente para ele não ligar, ele não respeitava. Deixava recado na caixa postal com poemas e canções. Parti para freqüentar o café em outros horários (diziam que ele sempre perguntava por mim e, como era de seu vezo assediar mulheres mais novas e elas serem receptivas, segundo as más-línguas, pela situação financeira folgada, ficou inconformado que suas investidas dizendo o que tinha e tem, não surtiram efeito comigo). Exasperei-me com ele. Veio o acidente com meu irmão e a oportunidade para ignorar suas ligações, já que falar não adiantava.
Não freqüentei mais o café, mais por ficar mais fora da cidade que nela, na época do acidente, e hoje, ao entrar para tomar um cafezinho pós-almoço, reencontrei-o. Confesso que fiquei chocada. Ele passou por problemas de saúde e aparentava ter muito mais que sua idade. Faltavam dentes em sua boca, sua voz tremulava, mancava de uma perna e estava bem acima do peso. Nestes tempos que não o vi, gravou um cd com músicas próprias, e em um de seus primeiros shows, caiu do palco, quebrou o fêmur e teve um AVC durante a cirurgia. Disse que estava voltando aos poucos, tentando se recuperar da melhor forma possível, mas percebe-se que a idade estava pesando e muito.
Meu maior constrangimento foi quando, depois de perguntar como meu irmão estava e bendizer a recuperação dele, dizer que vai me presentear com o cd, para prestar atenção em uma canção específica, pois escreveu pensando em mim. Fiquei com remorso porque, apesar de já ter sido musa inspiradora de outra canção – nenhum sucesso nacional, diga-se, mas faz muito bem pro ego saber que é fonte de inspiração de poetas e músicos – a exasperação com que respondia suas perguntas hoje, a total irritação na minha voz e todo o conjunto de negação na minha linguagem corporal, não condiziam com o carinho que desprendeu dele, de seu olhar e sua voz titubeante. Não precisava ter sido grosseira e sempre que tenha esse tipo de reação, gratuita, me incomoda. Deixei-o triste. Estou sempre pregando a filosofia do “paz e amor” mas na hora em que vislumbrei iniciar todo aquele assédio novamente, fui intolerante e pré-julgadora, já que ele estava em companhia de uma mulher jovem, de uma insensibilidade fenomenal e injustificada.
Hoje, mais uma vez dormirei mal, sabendo que, neste mundo já tão grosseiro e sem educação, contribuí para que a tarde deste senhor, maltratado pelo tempo e com pouca saúde, ficasse um pouco pior...

sábado, 8 de maio de 2010

Desígnios de Deus.

Desgraças acontecem - com conhecidos -, mas nunca conosco.
Dia 18 de abril de 2010 meu irmão foi hospitalizado, com traumatismo crânioencefálico. TCE, no jargão médico. Fora algumas pequenas suturas, no lado direito de sua cabeça raspada, não havia indício de que seu estado era gravíssimo.
Chegou em coma e permaneceu assim até semana passada.
Ver um homem com mais de 1,80cm, forte e lindo, imóvel, entubado, com sondas pra todos os lados é, no mínimo, perturbador. Ver seu irmão, indescritível. A sensação de impotência que emergia em nós, avassaladora.
Imaginar que ele poderia morrer nos fazia sofrer. Havia uma inquietude, uma apreensão, um receio que perdesse sua vida e o que faríamos sem ele? Sempre foi o mais paparicado, o mais mimado, o que deu mais trabalho e o que necessitava de mais compreensão, de mais amor e atenção. O que meus pais fariam sem ele? O “normal” dessa vida é os filhos sobreviverem aos pais e sequer, como mãe, imagino a dor de perder um filho. Não suportaria.
Ainda não poderíamos prever, naqueles dias, que, assim que saísse do coma, as seqüelas seriam nosso maior desafio. Para ele e para nós.
A felicidade da saída do coma foi substituída pela decepção.
Na Escala de Coma de Glascow, que mede semiquantitativamente o grau de envolvimento cerebral, ele estava entre 7 e 8. Essa medida utiliza três parâmetros clínicos para avaliar o envolvimento cerebral: melhor resposta verbal, abertura de olhos e melhor resposta motora. Ele não abria os olhos, não movimentava o lado direito do corpo e não falava.
Foi assim que voltou do coma: não fala, não responde a comandos, como deglutir, abrir os olhos ou apertar as mãos. Tem espasmos musculares, não mexe seus membros do lado direito, e respira com dificuldade. Seu nível de consciência é zero, ou seja, está desconectado deste mundo.
Por que descrevo aqui, expondo nossas mazelas?
Porque ouço, desde que ele está hospitalizado, que procurou por isso. Essa foi a vida que ele escolheu e esse é o resultado. Vou discordar de todos.
Ninguém, em hipótese alguma, merece estar como ele está e, por minhas filhas, afirmo que ninguém procura por isso. Ninguém tem culpa. Ele ou meus pais.
Fatalidades acontecem.
Resta a nós, familiares, o reconforto de ajudá-lo - e a seus filhos - da melhor maneira que pudermos, e pedir que deixem as críticas sobre sua vida de lado. Elas não nos ajudam e muito menos a ele, neste momento ou em qualquer outro.
Deixem-nos passar por todas as etapas da tristeza: o choque, a negação, a culpa, o medo e a insegurança, a depressão e finalmente a aceitação.
Para aqueles que nos confortam, meus agradecimentos, em meu nome e de minha família. Estão em nossas orações.
A nós, resta a esperança de que, sendo ele jovem e forte, recupere suas funções perdidas para viver sua vida com saúde e felicidade.

Raquel Lang - 05/05/2010.

=[

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Só ela!

Sentada em frente ao computador, digitando, quando a Becca, ao meu lado, no chão, dando ração na boca do Johnny, solta essa:
- Mãe, a língua do cachorro é diferente? Acho que deve ser mais áspera, né? Eu tentei beber água como ele, no copo, mas não consegui...Então deve ser, né?
Imaginei a cena!
Essa menina solta cada pérola que cês nem imaginam!!

=D

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terça-feira, 20 de abril de 2010

Medo

Só quando a desgraça arromba sua porta é que nos damos conta de que a vida é efêmera mesmo.

Não foi diferente comigo. Foi ela aportar por aqui para me fazer sentir que amamos mais do que imaginamos, aqueles que amamos. Nós sabemos. Mas não sentimos.

E bate um medo. Medo de acordar pela manhã e saber que não está lá. Medo de querer falar, ver ou ouvir, mesmo brigar, e saber não poder.

Medo de perder o rumo, e até de olhar no espelho e não reconhecer mais quem é você, quando estiver sozinha.

Um medo diferente dos sobressaltos das sombras na janela do carro, pós-assalto.

Um medo de ter medo sempre. De não ter mais graça viver.

Sabendo que está ali, você decide, enfrenta, vive. Como será quando não estiver mais?

Acho que não vou aguentar. Quero ir antes. Pode me chamar de covarde. Não ligo. Só quero ir até meu fim, sabendo que nele estarei segura, pois estará ali, me vendo e ouvindo e então, não terei mais medo...

=(
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quinta-feira, 1 de abril de 2010

Vai por mim

Estávamos em 10 mulheres, solteiras, em um restaurante de culinária japonesa. Aquele falatório sem fim e entre “me passa o shoyo”, começamos trocar nossos causos. Uma delas contou que, ao passar as férias em uma cidade do interior, descobriu que estava sendo paquerada por nada mais, nada menos que o bom partido de lá. Descreveu o moço com riqueza de detalhes: negro chocolate, dentes como teclas de piano, cabeça reluzente, dorso musculoso, alto, mãos maravilhosas, perto dos 30 anos e um carrão. Saíram, conversaram e foram pros finalmente.


Findo o rala e rola, ela acendeu um cigarro.

Ele a alertou. “Cigarro estraga os dentes.”

Ela sorriu para ele. Ele advertiu novamente. “Cigarro estraga os dentes.”

Ela, placidamente continuou sorrindo. Ele, insistentemente e falando mais pausadamente, repetiu “Ci-gar-ro es-tra-ga os den-tes, vai por mim!

“Ah...quê! Com esses dentes lindos diz vai por mim?”

“É, vai por mim: o cigarro estragou TODOS os meus dentes!”

Foi então que caiu a sua ficha.

;-D

Casamento

Aos oito dias de um dezembro escaldante, meu irmãozinho resolveu casar, no peculiar horário das 12h. Já estiveram em um casamento ao meio dia? Não?! Porque não fazem parte da família Lang, oras!!

Acordamos às 5. O salão, para embelezar a mulherada, estava marcado às 6h. Éramos cinco mulheres para passar pela repaginação: a mãe do noivo, eu, minha irmãzinha, minha primogênita e a florista, minha caçula.
Como em qualquer preparativo para um casamento, passamos o dia anterior comprando os últimos acessórios, numa correria tresloucada, andando de um lado a outro, no forno que se tornou a cidade de são Paulo, impermeabilizada por concreto e asfalto. Dormi como pedra, na ansiedade da data festiva e esperada – afinal ninguém acreditava que ele casaria um dia!
Paramos na porta, com os olhos inchados, descabeladas e sonolentas.
- Putz! E não é que o salão ainda está fechado? Resmunguei.
Aiquejáfiqueidepéssimohumor, pois detesto essa falta de pontualidade e irresponsabilidade da maioria do povo brasileiro. Sou praticamente uma britânica quando o assunto é horário – não gosto e não deixo ninguém esperando!
Assim que a única cabeleireira apareceu – combinamos duas profissionais para a façanha da funilaria completa -, entramos. A logística da coisa seria a mãe do noivo entrar no maçarico primeiro, seguida pela florista, eu, minha primogênita e a irmãzinha.
As horas iam passando, só uma profissional atendendo, o relógio batendo próximo das 11h, e a florista ainda no final do penteado. Resumo: nós fizemos o que o tempo permitiu no cabelo. Eu queria tanto uns cachos largos...
Meu pai, estressadíssimo, passou no salão e carregou minha mãe e a Becca para o casamento. Detalhe importante: eu sequer sabia onde seria o evento, pois não havia recebido o convite, mas é só um detalhe, concordam?.
Para ir no meu carro, sem ar condicionado, conhecido como pé de boi, sobrou meu sobrinho, a Kath, a Babi e eu.
Quando a Babi ficou pronta, já passava das 11h50. Corremos ajudá-la a se vestir e nos enfiamos no carro. Liguei para o meu pai e ele recomendou que eu fosse pela marginal do Tietê. Aí morou o perigo...
Mulher e senso de direção não combinam, portanto, escolhi um lado da marginal e caí no trânsito. Lei de Murphy! Relógio bateu 12h10.
Liguei novamente.
- Pai...
- Onde você está?
- Na marginal!!
- Em que altura da marginal?
Tentando achar algo que pudesse dizer onde me localizava, respondi: - Sei lá, pai...tô na marginal...peraí...acho que estou vendo o Playcenter! É, é o Playcenter! Toda feliz por ter me achado!
- Você está do lado errado da marginal, catso! Faz o retorno no primeiro viaduto e fica na via expressa da marginal...
As crianças, já acostumadas a se perderem comigo de carro por essa cidade de São Paulo, enorme e sem placas informativas para leigas como eu – e sem retornos, começaram a rir.
- Ê, mãe!! Vai se perder bem no dia do casamento do meu tio, é?? Comentou a Kaká.
E andamos...andamos...andamos... Meu pai ligou novamente.
- E agora, oncê tá?
- Ainda na marginal... ué, não falou pra eu ficar nela?!
- Tá, mas onde na marginal? Não tem nenhuma placa?
- Tem pai... já irritada!
- Então, quando você achar uma placa que tá escrito assim... Xiii, Marquinho...eu passava pela placa enquanto meu pai dava instruções!
- ...você entendeu onde terá que entrar?
- Mas pai, essa placa passou enquanto você falava e não deu pra entrar!
- Como ela passou e você não entrou? Você não tá na via expressa??
- Sei lá, pai! Eu tô na marginal...sei não onde é essa via expressa!!
Ele responde, iritadíssimo:
- A via expressa é a que corre ao lado da marginal (entre dentes)...se você não está nela, não vai conseguir pegar nenhuma saída, caraio!
Cagalhos!! Bateu um desespero, pois era quase uma hora da tarde!
De ligações em ligações, percebi meu pai falando mais baixo e escutei ao fundo a marcha nupcial! O casamento tinha começado. Deixei o celular no viva-voz e entre as ligações, escutávamos o padre brincando com os noivos, as risadas dos convidados e a voz do meu pai, irada!
Em sua vã tentativa de fazer com que eu saísse da marginal, acabou desligando o celular, não sem antes dizer pra eu me virar, já que estava atrapalhando o casamento e deixando ele mais nervoso.
No meio dessa confusão, as crianças reclamavam de fome, calor e queriam voltar pra casa. Minha maquiagem escorreu até o dedão do pé, o cabelo ensopou, meu sobrinho sem gravata e de camisa aberta, as meninas abanando com minhas revistas, um nó na minha garganta e mesmo que pretendesse voltar, continuaria perdida, pois não sabia onde estava. Finalmente uma alma boa me ligou e me explicou como chegar.
Nossa chegada foi triunfante! Todos os olhares se voltaram para nós. É certo que a maioria com reprovação, mas o que importava mesmo é que, finalmente, estávamos lá e ainda conseguimos ver a benção final do padre.
Fui substituída no altar, mas quem quer ser uma madrinha com a mesma história pra contar, né não?
Se não fosse por mim, o cara que contrataram para remover o áudio do meu pai me xingando no vídeo não teria trabalho, oras. Como ele pagaria as contas?
Fora esse pequenino incidente, o casamento foi divino e transcorreu na mais pura paz e harmonia, como são sempre os festejos casamenteiros.
Pena que só durou seis meses...

=D

Saúde

Outro dia estava deitada na cama, lendo meus e-mails e com o MSN aberto, quando me deu uma vontade louca de espirrar. 
Atchim!, aliviada.
Subiu instantaneamente ao meu espirro uma janelinha de um msn, me desejando saúde.
Era minha filha, mostrando sua educação virtualmente.
Rebecca!, exclamei. Começamos a rir.
Ai, ai...vamos mesmo ter que nos acostumar - eu terei - com o mundo virtual.
Pra entrar na onda dela, me despedi com um beijo e um boa noite, de lá mesmo, é, do quarto ao lado, ali, a alguns segundos e quase centímetros de distância, vendo-a numa foto um pouco maior que a 3X4, em um quadrado cor de rosa - essa é a cor do meu messenger. Ela adorou!
Não passou disso e desse dia. Despedir-se para dormir, na minha casa, implica ainda no bom e velho beijo na bochecha seguido do boa noite.
Nada substituiu um beijo de bom dia e boa noite. Sentir o cheiro do sabonete e shampoo e vê-la de pijaminha é sensação que mesmo um Vaio jamais proporcionará...

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quinta-feira, 18 de março de 2010

Certo e Errado - pais extintos.

As pessoas perderam a noção do que é certo e errado. Totalmente Joselitos! É certo não roubar? Claro. É certo não matar? Também. É certo pagar pelos seus erros? Obviamente!

Não é isso o que acontece. Sei, vai dizer que desde que o mundo é mundo, assim caminha a humanidade, Raquel! Independentemente de sua argumentação, as pessoas que roubam, matam ou erram conscientemente, tem “pobrema”.
Vou falar/comentar/desabafar aqui sobre aquelas que perdem a oportunidade de mostrar aos filhos o que é certo, para deixar homens melhores nesse mundo cão.
Leia a situação abaixo e responda a pergunta, sucintamente.
Alguns alunos de um curso superior não concluíram o ano letivo em determinadas matérias, pré-requisito para freqüentar a próxima, devendo cumprir as dependências no próximo. Tal situação gerada por eles mesmos, os impedirá de graduar-se juntamente com a turma, colando grau somente em outro ano, se cumprido as pendências. Sabedores de quão desesperadas estão as universidades para manter seus alunos pagantes, chantageiam e ameaçam a direção com transferência para outra instituição, caso não haja maneira de freqüentar o ano letivo em questão, mesmo dependente. As matérias pendentes são laboratoriais, etapa imprescindível que os habilitará a atender pessoas no ano seguinte.
Pergunta:
Qual seria a atitude mais louvável dos pais ou dos alunos, frente a uma questão ética – o atendimento de pacientes sem conhecimento técnico prévio?
Pois é...
Cadê os pais que lavavam a boca de seus filhos com sabão, quando falavam palavrões? Ah, é verdade...hoje não podem mais fazer isso, pois são denunciados ao conselho tutelar. Também não existem mais pais que se envergonham dos filhos quando estes repetem o ano na escola, ao contrário, são os primeiros a bradarem em alto e bom som o quanto seus filhos são perseguidos pelos professores, aqueles carrascos que vira e mexe dão notas baixas, que não condizem com o Q.I de seu filho amado!
Estão em extinção os pais que acompanham a vida escolar do filho e, quando chamados para ter uma conversa com os coordenadores escolares, aceitam as sugestões. Hoje, os pais ameaçam professores e instituição, perdendo uma oportunidade única de mostrar à pessoa em formação moral que devemos arcar com as conseqüências de atos irresponsáveis, como não freqüentar as aulas ou não estudar. Taí. Fico imaginando, quando o chefe demitir um cidadão desse, o que ele fará? Certamente ligará para um dos pais, que irá ameaçar a empresa de, sei lá, discriminação, por exemplo...?

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Acho pior que hipocrisia o prejulgamento e as suas conseqüências. Hum...pior não, na mesma categoria.

E de 5 anos pra cá experimentei esse aziúme, esse fel, destilado por nada mais nada menos pessoas que eu (pré)julgava me amarem.
É difícil não prejulgarmos. É inerente ao ser humano acusar para só depois verificar a autenticidade dos fatos. Lamentável. Causa terremotos na vida.
Tudo começou com meu finado marido – com ele experimentei pela primeira vez o azedume sabor do prejulgamento. As histórias inventadas por ele perduraram por anos.
Depois, com a vaca que eu colidi uns meses atrás. Como provar que as avarias na lataria do seu carro não foram causadas por mim? Ao menos, não tudo que ela insistia em dizer. Perdi. Não paguei, por birra. Caiu no meu esquecimento. Causou o bloqueio das minhas contas, uma delas conta-salário, devidamente indeferida pelo juiz, que alegou haver “movimentação bancária”. Alguém já viu um assalariado só olhar pingar seu soldo no banco, sem usar o dinheiro? Você vai ao caixa eletrônico, passa o cartão, confere se o empregador depositou o valor devido por seus dias trabalhados, fecha o programa e vem embora, feliz da vida por ter seu salário protegido de gastos, guardadinho, na instituição bancária! Faz favor!!
Teve ainda a compra de um cão e a devolução do meu sobrinho.
Recentemente, as DP’s dos alunos.
Nesses episódios, nas tentativas fracas, admito, das minhas defesas, desisti. Houve até falta de defesa. Não para esperar o tempo mostrar quem está certo ou errado, mas por achar que, se pensam que você é ou seria capaz de tal atitude, sinal de que não o conhecem suficientemente, apesar da convivência diária. Foram capazes de julgar sua moral apenas com argumentos de, pasmem, pessoas que haviam mostrado a índole nos primeiros contatos.
Tenho admiração por esse tipo de pessoa. Chamados 171. E não estou prejulgando. Têm a minha admiração por uma capacidade que falta em mim: do convencimento. Eu sou incapaz de convencer qualquer um com argumentação mentirosa e fantasiosa. Sou péssima vendedora e morreria de fome se essa fosse minha profissão. Sou conhecida por minha clareza e axioma. Não sei direcionar uma conversa para minha perspectiva. Falo o que é, sem rodeios ou floreios. Se for preciso, calo, para não ofender ou me arrepender depois. Mas não sei distorcer. É isso que fazem as pessoas que tentam sempre a vantagem, seja qual for. Distorcem fatos. Inventam. Envolvem pela dramaticidade, pela trama, atuam como vitimas. Conseguem o que querem. Mas há um lado bom no prejulgamento. Fortifica.

 
Beijinhos.
 
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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A Manga

Essa não é uma passagem minha. Resolvi colocar umas histórias engraçadas e diferentes que as amigas passam no cotidiano.

“Tava em um restaurante por quilo, fazendo meu prato, quando entrou um homem lindo, bem vestido, cheiroso, que parou ao meu lado pra fazer o seu.
Eu tava usando um casaco lindo, cheio de pelinhos. Ainda bem que aquele dia estava arrumada!
Enquanto pegava a comida, o homem ficava me olhando... Arroz, olhada. Carne, olhada. Batatinha, olhada. Eu já toda empolgada - oba! O cara tá me paquerando! Uhu! Feijão, olhada. Eu me empolgando mais e mais... toda sorrisos pra ele, dava uma olhadinha de lado, fazendo caras e bocas quando de repente ele diz:

- Sua manga está na comida!

Senti como se alguém batesse um gongo na minha orelha! Tóimmmm...
Sem graça, puxei a manga do casaco pra cima e agradeci o aviso.
Fui sentar lá no canto do restaurante, com cara de coxinha. Tava me achando A poderosa e o cara tava só olhando pra mim porque minha manga entrava na comida."

É, mulherada...nem sempre um homem  olhando é sinal de que está paquerando. Ele pode querer te avisar que cê tem um neguinho  melanoderma na arquibancada, rsrsr.

Beijos

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