Desgraças acontecem - com conhecidos -, mas nunca conosco.
Dia 18 de abril de 2010 meu irmão foi hospitalizado, com traumatismo crânioencefálico. TCE, no jargão médico. Fora algumas pequenas suturas, no lado direito de sua cabeça raspada, não havia indício de que seu estado era gravíssimo.
Chegou em coma e permaneceu assim até semana passada.
Ver um homem com mais de 1,80cm, forte e lindo, imóvel, entubado, com sondas pra todos os lados é, no mínimo, perturbador. Ver seu irmão, indescritível. A sensação de impotência que emergia em nós, avassaladora.
Imaginar que ele poderia morrer nos fazia sofrer. Havia uma inquietude, uma apreensão, um receio que perdesse sua vida e o que faríamos sem ele? Sempre foi o mais paparicado, o mais mimado, o que deu mais trabalho e o que necessitava de mais compreensão, de mais amor e atenção. O que meus pais fariam sem ele? O “normal” dessa vida é os filhos sobreviverem aos pais e sequer, como mãe, imagino a dor de perder um filho. Não suportaria.
Ainda não poderíamos prever, naqueles dias, que, assim que saísse do coma, as seqüelas seriam nosso maior desafio. Para ele e para nós.
A felicidade da saída do coma foi substituída pela decepção.
Na Escala de Coma de Glascow, que mede semiquantitativamente o grau de envolvimento cerebral, ele estava entre 7 e 8. Essa medida utiliza três parâmetros clínicos para avaliar o envolvimento cerebral: melhor resposta verbal, abertura de olhos e melhor resposta motora. Ele não abria os olhos, não movimentava o lado direito do corpo e não falava.
Foi assim que voltou do coma: não fala, não responde a comandos, como deglutir, abrir os olhos ou apertar as mãos. Tem espasmos musculares, não mexe seus membros do lado direito, e respira com dificuldade. Seu nível de consciência é zero, ou seja, está desconectado deste mundo.
Por que descrevo aqui, expondo nossas mazelas?
Porque ouço, desde que ele está hospitalizado, que procurou por isso. Essa foi a vida que ele escolheu e esse é o resultado. Vou discordar de todos.
Ninguém, em hipótese alguma, merece estar como ele está e, por minhas filhas, afirmo que ninguém procura por isso. Ninguém tem culpa. Ele ou meus pais.
Fatalidades acontecem.
Resta a nós, familiares, o reconforto de ajudá-lo - e a seus filhos - da melhor maneira que pudermos, e pedir que deixem as críticas sobre sua vida de lado. Elas não nos ajudam e muito menos a ele, neste momento ou em qualquer outro.
Deixem-nos passar por todas as etapas da tristeza: o choque, a negação, a culpa, o medo e a insegurança, a depressão e finalmente a aceitação.
Para aqueles que nos confortam, meus agradecimentos, em meu nome e de minha família. Estão em nossas orações.
A nós, resta a esperança de que, sendo ele jovem e forte, recupere suas funções perdidas para viver sua vida com saúde e felicidade.
Raquel Lang - 05/05/2010.
=[
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