quinta-feira, 1 de abril de 2010

Casamento

Aos oito dias de um dezembro escaldante, meu irmãozinho resolveu casar, no peculiar horário das 12h. Já estiveram em um casamento ao meio dia? Não?! Porque não fazem parte da família Lang, oras!!

Acordamos às 5. O salão, para embelezar a mulherada, estava marcado às 6h. Éramos cinco mulheres para passar pela repaginação: a mãe do noivo, eu, minha irmãzinha, minha primogênita e a florista, minha caçula.
Como em qualquer preparativo para um casamento, passamos o dia anterior comprando os últimos acessórios, numa correria tresloucada, andando de um lado a outro, no forno que se tornou a cidade de são Paulo, impermeabilizada por concreto e asfalto. Dormi como pedra, na ansiedade da data festiva e esperada – afinal ninguém acreditava que ele casaria um dia!
Paramos na porta, com os olhos inchados, descabeladas e sonolentas.
- Putz! E não é que o salão ainda está fechado? Resmunguei.
Aiquejáfiqueidepéssimohumor, pois detesto essa falta de pontualidade e irresponsabilidade da maioria do povo brasileiro. Sou praticamente uma britânica quando o assunto é horário – não gosto e não deixo ninguém esperando!
Assim que a única cabeleireira apareceu – combinamos duas profissionais para a façanha da funilaria completa -, entramos. A logística da coisa seria a mãe do noivo entrar no maçarico primeiro, seguida pela florista, eu, minha primogênita e a irmãzinha.
As horas iam passando, só uma profissional atendendo, o relógio batendo próximo das 11h, e a florista ainda no final do penteado. Resumo: nós fizemos o que o tempo permitiu no cabelo. Eu queria tanto uns cachos largos...
Meu pai, estressadíssimo, passou no salão e carregou minha mãe e a Becca para o casamento. Detalhe importante: eu sequer sabia onde seria o evento, pois não havia recebido o convite, mas é só um detalhe, concordam?.
Para ir no meu carro, sem ar condicionado, conhecido como pé de boi, sobrou meu sobrinho, a Kath, a Babi e eu.
Quando a Babi ficou pronta, já passava das 11h50. Corremos ajudá-la a se vestir e nos enfiamos no carro. Liguei para o meu pai e ele recomendou que eu fosse pela marginal do Tietê. Aí morou o perigo...
Mulher e senso de direção não combinam, portanto, escolhi um lado da marginal e caí no trânsito. Lei de Murphy! Relógio bateu 12h10.
Liguei novamente.
- Pai...
- Onde você está?
- Na marginal!!
- Em que altura da marginal?
Tentando achar algo que pudesse dizer onde me localizava, respondi: - Sei lá, pai...tô na marginal...peraí...acho que estou vendo o Playcenter! É, é o Playcenter! Toda feliz por ter me achado!
- Você está do lado errado da marginal, catso! Faz o retorno no primeiro viaduto e fica na via expressa da marginal...
As crianças, já acostumadas a se perderem comigo de carro por essa cidade de São Paulo, enorme e sem placas informativas para leigas como eu – e sem retornos, começaram a rir.
- Ê, mãe!! Vai se perder bem no dia do casamento do meu tio, é?? Comentou a Kaká.
E andamos...andamos...andamos... Meu pai ligou novamente.
- E agora, oncê tá?
- Ainda na marginal... ué, não falou pra eu ficar nela?!
- Tá, mas onde na marginal? Não tem nenhuma placa?
- Tem pai... já irritada!
- Então, quando você achar uma placa que tá escrito assim... Xiii, Marquinho...eu passava pela placa enquanto meu pai dava instruções!
- ...você entendeu onde terá que entrar?
- Mas pai, essa placa passou enquanto você falava e não deu pra entrar!
- Como ela passou e você não entrou? Você não tá na via expressa??
- Sei lá, pai! Eu tô na marginal...sei não onde é essa via expressa!!
Ele responde, iritadíssimo:
- A via expressa é a que corre ao lado da marginal (entre dentes)...se você não está nela, não vai conseguir pegar nenhuma saída, caraio!
Cagalhos!! Bateu um desespero, pois era quase uma hora da tarde!
De ligações em ligações, percebi meu pai falando mais baixo e escutei ao fundo a marcha nupcial! O casamento tinha começado. Deixei o celular no viva-voz e entre as ligações, escutávamos o padre brincando com os noivos, as risadas dos convidados e a voz do meu pai, irada!
Em sua vã tentativa de fazer com que eu saísse da marginal, acabou desligando o celular, não sem antes dizer pra eu me virar, já que estava atrapalhando o casamento e deixando ele mais nervoso.
No meio dessa confusão, as crianças reclamavam de fome, calor e queriam voltar pra casa. Minha maquiagem escorreu até o dedão do pé, o cabelo ensopou, meu sobrinho sem gravata e de camisa aberta, as meninas abanando com minhas revistas, um nó na minha garganta e mesmo que pretendesse voltar, continuaria perdida, pois não sabia onde estava. Finalmente uma alma boa me ligou e me explicou como chegar.
Nossa chegada foi triunfante! Todos os olhares se voltaram para nós. É certo que a maioria com reprovação, mas o que importava mesmo é que, finalmente, estávamos lá e ainda conseguimos ver a benção final do padre.
Fui substituída no altar, mas quem quer ser uma madrinha com a mesma história pra contar, né não?
Se não fosse por mim, o cara que contrataram para remover o áudio do meu pai me xingando no vídeo não teria trabalho, oras. Como ele pagaria as contas?
Fora esse pequenino incidente, o casamento foi divino e transcorreu na mais pura paz e harmonia, como são sempre os festejos casamenteiros.
Pena que só durou seis meses...

=D

4 comentários:

  1. hahahahaha além da história ser cômica, o seu texto é muito bom... Adorei.

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  2. caraio?? Que será isso... Vou procurar no dicionário.

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  3. Adorei o texto e uma vez mais pude confirmar que sempre ocorrem "acidentes" em casamentos: no meu a filha da minha madrinha "desapareceu" (estava era com algum bofe) numa pequenina cidade do interior de Sta. Catarina (cerca de apenas 10 mil habitantes no máximo),a madrinha quase infartou, eu e meu noivo esquecemos de brindar com a champagne, um convidado bêbado filmava a festa toda p/ tentando material p/ enviar ao programa do Faustão e sei lá mais o que não consegui ficar sabendo... Bjs, Eliane

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  4. hahahaha seus textos sao otimos,adoro! Bjs, Karin

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