terça-feira, 20 de abril de 2010

Medo

Só quando a desgraça arromba sua porta é que nos damos conta de que a vida é efêmera mesmo.

Não foi diferente comigo. Foi ela aportar por aqui para me fazer sentir que amamos mais do que imaginamos, aqueles que amamos. Nós sabemos. Mas não sentimos.

E bate um medo. Medo de acordar pela manhã e saber que não está lá. Medo de querer falar, ver ou ouvir, mesmo brigar, e saber não poder.

Medo de perder o rumo, e até de olhar no espelho e não reconhecer mais quem é você, quando estiver sozinha.

Um medo diferente dos sobressaltos das sombras na janela do carro, pós-assalto.

Um medo de ter medo sempre. De não ter mais graça viver.

Sabendo que está ali, você decide, enfrenta, vive. Como será quando não estiver mais?

Acho que não vou aguentar. Quero ir antes. Pode me chamar de covarde. Não ligo. Só quero ir até meu fim, sabendo que nele estarei segura, pois estará ali, me vendo e ouvindo e então, não terei mais medo...

=(
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quinta-feira, 1 de abril de 2010

Vai por mim

Estávamos em 10 mulheres, solteiras, em um restaurante de culinária japonesa. Aquele falatório sem fim e entre “me passa o shoyo”, começamos trocar nossos causos. Uma delas contou que, ao passar as férias em uma cidade do interior, descobriu que estava sendo paquerada por nada mais, nada menos que o bom partido de lá. Descreveu o moço com riqueza de detalhes: negro chocolate, dentes como teclas de piano, cabeça reluzente, dorso musculoso, alto, mãos maravilhosas, perto dos 30 anos e um carrão. Saíram, conversaram e foram pros finalmente.


Findo o rala e rola, ela acendeu um cigarro.

Ele a alertou. “Cigarro estraga os dentes.”

Ela sorriu para ele. Ele advertiu novamente. “Cigarro estraga os dentes.”

Ela, placidamente continuou sorrindo. Ele, insistentemente e falando mais pausadamente, repetiu “Ci-gar-ro es-tra-ga os den-tes, vai por mim!

“Ah...quê! Com esses dentes lindos diz vai por mim?”

“É, vai por mim: o cigarro estragou TODOS os meus dentes!”

Foi então que caiu a sua ficha.

;-D

Casamento

Aos oito dias de um dezembro escaldante, meu irmãozinho resolveu casar, no peculiar horário das 12h. Já estiveram em um casamento ao meio dia? Não?! Porque não fazem parte da família Lang, oras!!

Acordamos às 5. O salão, para embelezar a mulherada, estava marcado às 6h. Éramos cinco mulheres para passar pela repaginação: a mãe do noivo, eu, minha irmãzinha, minha primogênita e a florista, minha caçula.
Como em qualquer preparativo para um casamento, passamos o dia anterior comprando os últimos acessórios, numa correria tresloucada, andando de um lado a outro, no forno que se tornou a cidade de são Paulo, impermeabilizada por concreto e asfalto. Dormi como pedra, na ansiedade da data festiva e esperada – afinal ninguém acreditava que ele casaria um dia!
Paramos na porta, com os olhos inchados, descabeladas e sonolentas.
- Putz! E não é que o salão ainda está fechado? Resmunguei.
Aiquejáfiqueidepéssimohumor, pois detesto essa falta de pontualidade e irresponsabilidade da maioria do povo brasileiro. Sou praticamente uma britânica quando o assunto é horário – não gosto e não deixo ninguém esperando!
Assim que a única cabeleireira apareceu – combinamos duas profissionais para a façanha da funilaria completa -, entramos. A logística da coisa seria a mãe do noivo entrar no maçarico primeiro, seguida pela florista, eu, minha primogênita e a irmãzinha.
As horas iam passando, só uma profissional atendendo, o relógio batendo próximo das 11h, e a florista ainda no final do penteado. Resumo: nós fizemos o que o tempo permitiu no cabelo. Eu queria tanto uns cachos largos...
Meu pai, estressadíssimo, passou no salão e carregou minha mãe e a Becca para o casamento. Detalhe importante: eu sequer sabia onde seria o evento, pois não havia recebido o convite, mas é só um detalhe, concordam?.
Para ir no meu carro, sem ar condicionado, conhecido como pé de boi, sobrou meu sobrinho, a Kath, a Babi e eu.
Quando a Babi ficou pronta, já passava das 11h50. Corremos ajudá-la a se vestir e nos enfiamos no carro. Liguei para o meu pai e ele recomendou que eu fosse pela marginal do Tietê. Aí morou o perigo...
Mulher e senso de direção não combinam, portanto, escolhi um lado da marginal e caí no trânsito. Lei de Murphy! Relógio bateu 12h10.
Liguei novamente.
- Pai...
- Onde você está?
- Na marginal!!
- Em que altura da marginal?
Tentando achar algo que pudesse dizer onde me localizava, respondi: - Sei lá, pai...tô na marginal...peraí...acho que estou vendo o Playcenter! É, é o Playcenter! Toda feliz por ter me achado!
- Você está do lado errado da marginal, catso! Faz o retorno no primeiro viaduto e fica na via expressa da marginal...
As crianças, já acostumadas a se perderem comigo de carro por essa cidade de São Paulo, enorme e sem placas informativas para leigas como eu – e sem retornos, começaram a rir.
- Ê, mãe!! Vai se perder bem no dia do casamento do meu tio, é?? Comentou a Kaká.
E andamos...andamos...andamos... Meu pai ligou novamente.
- E agora, oncê tá?
- Ainda na marginal... ué, não falou pra eu ficar nela?!
- Tá, mas onde na marginal? Não tem nenhuma placa?
- Tem pai... já irritada!
- Então, quando você achar uma placa que tá escrito assim... Xiii, Marquinho...eu passava pela placa enquanto meu pai dava instruções!
- ...você entendeu onde terá que entrar?
- Mas pai, essa placa passou enquanto você falava e não deu pra entrar!
- Como ela passou e você não entrou? Você não tá na via expressa??
- Sei lá, pai! Eu tô na marginal...sei não onde é essa via expressa!!
Ele responde, iritadíssimo:
- A via expressa é a que corre ao lado da marginal (entre dentes)...se você não está nela, não vai conseguir pegar nenhuma saída, caraio!
Cagalhos!! Bateu um desespero, pois era quase uma hora da tarde!
De ligações em ligações, percebi meu pai falando mais baixo e escutei ao fundo a marcha nupcial! O casamento tinha começado. Deixei o celular no viva-voz e entre as ligações, escutávamos o padre brincando com os noivos, as risadas dos convidados e a voz do meu pai, irada!
Em sua vã tentativa de fazer com que eu saísse da marginal, acabou desligando o celular, não sem antes dizer pra eu me virar, já que estava atrapalhando o casamento e deixando ele mais nervoso.
No meio dessa confusão, as crianças reclamavam de fome, calor e queriam voltar pra casa. Minha maquiagem escorreu até o dedão do pé, o cabelo ensopou, meu sobrinho sem gravata e de camisa aberta, as meninas abanando com minhas revistas, um nó na minha garganta e mesmo que pretendesse voltar, continuaria perdida, pois não sabia onde estava. Finalmente uma alma boa me ligou e me explicou como chegar.
Nossa chegada foi triunfante! Todos os olhares se voltaram para nós. É certo que a maioria com reprovação, mas o que importava mesmo é que, finalmente, estávamos lá e ainda conseguimos ver a benção final do padre.
Fui substituída no altar, mas quem quer ser uma madrinha com a mesma história pra contar, né não?
Se não fosse por mim, o cara que contrataram para remover o áudio do meu pai me xingando no vídeo não teria trabalho, oras. Como ele pagaria as contas?
Fora esse pequenino incidente, o casamento foi divino e transcorreu na mais pura paz e harmonia, como são sempre os festejos casamenteiros.
Pena que só durou seis meses...

=D

Saúde

Outro dia estava deitada na cama, lendo meus e-mails e com o MSN aberto, quando me deu uma vontade louca de espirrar. 
Atchim!, aliviada.
Subiu instantaneamente ao meu espirro uma janelinha de um msn, me desejando saúde.
Era minha filha, mostrando sua educação virtualmente.
Rebecca!, exclamei. Começamos a rir.
Ai, ai...vamos mesmo ter que nos acostumar - eu terei - com o mundo virtual.
Pra entrar na onda dela, me despedi com um beijo e um boa noite, de lá mesmo, é, do quarto ao lado, ali, a alguns segundos e quase centímetros de distância, vendo-a numa foto um pouco maior que a 3X4, em um quadrado cor de rosa - essa é a cor do meu messenger. Ela adorou!
Não passou disso e desse dia. Despedir-se para dormir, na minha casa, implica ainda no bom e velho beijo na bochecha seguido do boa noite.
Nada substituiu um beijo de bom dia e boa noite. Sentir o cheiro do sabonete e shampoo e vê-la de pijaminha é sensação que mesmo um Vaio jamais proporcionará...

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