quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Caos e cacos.

Pretendia até trabalhar na semana de 24 de dezembro, mas o consultório parecia um mausoléu assombrado. A secretária pediu demissão. Um paciente quebrou o espelho. Outro, o tampo de vidro da minha mesa, na minha sala. A lâmpada do corredor despencou, como fruto maduro. Na onda do quebra-quebra geral, foi-se também a mesa de vidro na entrada da recepção. Tudo na mesma semana. Pronto. São sinais. Devo fechar e só voltar ano que vem. Espíritos brincalhões avisaram que as férias, mesmo forçadas, chegaram.
Então, vamos!
Retornei dia 4. Perdida. Abria as gavetas do carrinho uma a uma, procurando os medicamentos e instrumentais, como se fosse a primeira vez que atendia naquele consultório.
Nunca fiquei tão sem fazer nada na minha vida. Não fiz nada, nadinha, niente! Quando me ligavam e me perguntavam o que estava fazendo, dizia: mudando de sofá. Riam. Ninguém acreditou que fiz do ócio, completo e quase infinito, meu companheiro de 15 dias. Você?! Incrédulos, me questionavam. É. Euzinha. Eu mesma. Aquela que acorda cedo e não deixa mais ninguém dormir, pois é desperdiçar vida. Aquela mesma, que tem dor nas costas se passar mais de 6 horas deitada. Aquela que bate na porta do quarto, de 5 em 5 segundos, avisando que o horário do café está acabando. Aquela que fica sentada na mesa da sala olhando, através da janela, o dourado dos raios do sol entrando, com uma xícara de café puro, forte e sem açúcar. Essa mesma!
Quase tive escaras, nessa minha pseudo-férias. Meu corpo serviu de modelo, para a forma que se tornou meu sofá. Consigo distinguir todos meus membros nele. Um horror!
A inação foi completa. O que culminou com a saída do meu estado de inércia foi, ao sentir o estômago colabado nas minhas costelas de tanta fome, por volta das 4h, procurar algo pra beliscar e abalada, checar que no meu armário só tinha uma farofa pronta para churrasco. Resignada, abri o pacotinho, coloquei em um prato e comi - de colher, obviamente. Preciso mesmo sair e ir ao mercado, pensei. Melhor seria se ele viesse até mim...Veio? Não! Catso!

Maquébom..é!...

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Um comentário:

  1. Oi Raquel,
    Adoro sua maneira de escrever e se expressar. Vc deveria escrever um livro.... com colaboradores, poesias vivas de nossas memorias. Beijos e saudades, Karin

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