segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Bubi, O Cara!


Temos momentos tristes e momentos felizes. Já fui questionada, em um curso estilo auto-ajuda (se houve um dinheirão gasto à toa foi com esse curso - não recomendo), a falar sobre eles. Fiquei deveras feliz ao ver quantas pessoas urravam ao chorar, por guardar mágoa e ressentimentos, principalmente dos pais, e eu ali, estarrecida com a quantidade de pessoas nesta situação, sem conseguir lembrar um dia sequer. Na ocasião, o único falecimento – um momento muito triste em nossas vidas – havia sido da minha bisavó, em 1990, ano em que não havia comunicação instantânea, portanto, fomos avisados em hora tardia, em férias e fora da cidade. Resumo: não comparecemos. Foi uma passagem indolor. Quando voltamos, ela não estava mais entre nós. Choramos e aliviamos em saber que ela havia ido embora de velhice mesmo, sem doenças e lúcida.
Se questionada novamente, este ano, teria duas lembranças ruins. A morte precoce e abrupta do meu tio Bubi foi a primeira.
Ele foi um cara excepcional. Era malandro, mas com a malandragem daqueles homens antigos, que usavam sapato branco e chapéu de palha. Aliás, dava chapéu em quem quisesse e ninguém magoava, pois sua simpatia impedia e nunca feriu ninguém ou pretendeu fazer mal. Malandragem que todos sentem falta. Homem que emanava vida e amava viver. Dele conto duas passagens. Uma em seu velório e podem até achar que o humor é negro, mas vindo dele, não poderíamos esperar mais nada, e a outra – existiram muitas –, foi em um feriado. Farei um breve relato. Bubi, apelido germânico do Jorge Lang Filho, havia comprado uma mega casa no interior de São Paulo. Mega para nossos padrões, deixo claro. Casa com piscina, quadra de tênis, quartos de hóspedes, enfim, uma casa bacana para reunir a molecada (característica deles – casa cheia de pessoas, festa ano inteiro). Churrasco e cerveja no feriado todo. Ele era um amante da culinária e quando lá, era o Chef. Suou para realizar esse sonho. Nesse dia em questão, ele fez gulasch, prato adorado por nós, mas não comeu. Disse que estava mal, com dor no corpo, como se viesse uma gripe forte. Perguntou-me se cebola tinha alguma vitamina e era bom para gripe. Falei que sabia do alho, e todos concordaram, mas que cebola ao menos iria acabar com a congestão nasal. Ele bateu no liquidificador uma cebola roxa com o alho, bebeu e foi deitar.
Segunda, após o feriado, levou minha tia ao hospital, com crise de labirintite. Aproveitou e foi queixar-se ao médico. Minha tia veio embora e ele ficou. Infartado. Pode?! Depois disse- me que a cebola salvou a vida dele. Esse era o tio Bubi. Positivo, sempre!
A passagem no velório dele, recente – me perdoe pai, primos, tios e Mama – diz respeito ao seu estilo de vida, abrilhantada.
Ele sempre quis viver com tudo que a vida oferece de bom – vinho, comida, restaurante, hotel – e quem não quer? -, em grande estilo. E justamente quando conquistava seu lugar ao sol, foi ceifado precocemente.
Faleceu em um acidente de avião, onde era o piloto, junto com a família toda do empresário para quem pilotava, incluindo netos e babás . O velório, triste para todos, foi o mais comovente que eu já presenciei. Caixões pequeninos e adultos, velados lado a lado. Sete, se não me engano, ao todo. A funcionária de confiança do empresário organizou tudo. Eficientemente. Se não fossem os caixões, pareceria com uma recepção de casamento. Café da manhã, lanche da manhã, almoço, lanche da tarde.
Sabem como é velório? Encontramos parentes e amigos que não vemos há anos ou nem conhecemos. Lá, minhas filhas foram apresentadas a alguns e eu vi outros que não reconheceria na rua, se em mim esbarrassem!
Em certa hora, chega uma amiga da minha prima, que não víamos há séculos. A moça entra no saguão do velório, para na nossa rodinha, olha para nós, e antes de cumprimentar qualquer um, solta essa pérola:
- CARALHO!! O tio é foda!! Até pra morrer foi em grande estilo! Olha isso aqui. Tem até o Governador do Estado!
Todos, mudos e perplexos frente à espontaneidade dela. Coberta de razão. Se houve alguém a quem Deus disse desce e arrasa, foi para ele.
Assim foi a vida dele. Cheia de amigos, festas, eterna confraternização. Homem privilegiado – quem consegue viver tão profundamente? – e amado, por sua esposa, seus filhos, parentes e amigos. Assim foi a morte dele. Morreu fazendo o que mais gostava e foi enterrado em grande estilo, como gostava de viver. Esse é O Cara!
Viveu intensamente, cada dia de sua breve vida. Aqui deixou três filhos maravilhosos uma neta, esposa saudosa e irmãos, irmãs e mãe.
Eu queria ter vivido até aqui como ele, mas isso não é para qualquer um! Leve, com certa irresponsabilidade e cativando todos do meu caminho.

Tio Bubi, fica aí, sob as mãos Dele, pois aqui todos rezam por sua alma.

TE AMAMOS!

Saudade
S2





P.S.: quem sabe um dia, quando o outro momento doer menos, tenha coragem de postar... :-(

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