Depois de passar por maus bocados
com relação ao pouco caso de médicos e funcionários de hospitais, há menos de
um ano, o mesmo azedume viemos experimentar.
Minha avó vem definhando neste
último ano, mesmo sendo assistida por geriatras. Atribuíam à perda de apetite
sua idade. “Velhinho é assim mesmo... vão ficando magrinhos, difíceis para
comer, esquecidos...”.
Acreditamos nesta ladainha de
senilidade. Minha avó mal parava em pé e um passarinho comia muito mais que
ela. Briguei para passarem uma sonda nasoenteral, achando que os médicos tinham
razão e ela se recusava a comer como uma criança birrenta. Ao saber disso, ela
mesma prometeu comer melhor e mais que o atualmente. Ficamos felizes. Eis que
não mais que uns dias em cumprindo sua promessa, relata dores abdominais
absurdas, e é levada às pressas ao hospital, lá ficando.
Acharam melhor realizarem uma
bateria de exames – exames nunca antes pedidos pelos geriatras. Nossa surpresa:
ela está morrendo de câncer, com metástases por todo corpo. Minha descrença nesses médicos é tamanha que sequer tenho forças para qualificá-los. Estou juntando todos no mesmo saco, epigrafado “mercenários”, pois é assim que vejo, novamente estarrecida, a posição sem comprometimento com o juramento que eles fizeram. Médicos não podem errar, ainda que errar seja humano. Se puder pecar por algo, seria pelo zelo.
Minha avó será só mais um número,
em estatística aviltante, do descaso dos profissionais médicos.
Que sua partida, Mama, seja a mais tranqüila
possível...
=[