Dia 31/12 dei uma passada no consultório por volta das 18h30 porque esqueci umas comprinhas lá. Deixei o carro na calçada por preguiça de abrir a garagem. Ao sair, uma senhora negra, trajando biquíni e canga, suja e com cara de poucos amigos, com uma sacolinha de supermercado na mão, me abordou. Disse que estava perdida e perguntou se eu podia ligar para alguém da família dela. Entrei em pânico, reação isntintiva pós-assalto recente, pois a rua estava vazia, apesar do dia claro pelo horário de verão. Eu segurava minha bolsa pela alça e tive um branco na mente - sequer saí do lugar. Talvez vendo minha reação esquisita, a mulher repetiu a pergunta. Tirei meu celular da bolsa e pedi o número, mantendo distância segura. Liguei, comentando que as ligações estavam difíceis de completar devido fim de ano, enquanto ela relatava o motivo de estar perdida. Eu informei que não havia conseguido completar a ligação e ela começou a chorar. Ficou nervosa e falava sem parar e desconexa. Acehi inclusive que podia estar alcoolizada. Repetia que estava andando há quatro horas e que tentava chegar no posto de combustível X que era próximo da casa que alugaram para o ano novo. Eu indiquei o caminho do tal do posto, que ficava uns dez quarteirões de onde estávamos. Ela agradeceu e foi andando. Esperei se afastar bastante e entrei no carro. Dei a partida e fitei aquela mulher, andando e chorando, falando sozinha, e me coloquei em seu lugar. Minha cosnciência não permitiu que a deixasse ir naquele estado, sendo de tão longe.
Parei o carro ao seu lado e pedi que entrasse, oferecendo uma carona para procurarmos a casa ou deixá-la no posto para que alguém pudesse encontrá-la. Logramos êxito na busca e ela desceu do carro feliz, agradecendo e me desejando tudo de bom. Esperei entrar, acenei em despedida e tomei meu caminho. Tive uma crise de choro na esquina. Senti que hoje em dia é difícil ajudar estranhos pois não confiamos mais. Fiquei péssima por ter relutado em ajudar e depois péssima porque se ela fosse uma maluca qualquer talvez eu nem estivesse aqui pra contar. Esse conflito de sentimentos me fez mal durante algumas horas e pensei, cá com meus botões, que aquela alegria que sempre me fez parar o carro, pular muros, subir em árvores ou qualquer outra atitude para ajudar alguém desconhecido ou um animalzinho, foi substituída pelo receio. Titubeei, pela primeira vez na minha vida, em ajudar alguém. Não gostei disso. Reflexo deste mundo egoísta que vivemos. Não quero ser essa pessoa. Não quero ser alguém que filma o cãozinho sendo espancado até e morte e não reage. Não quero ser como os chineses que atropelam garotinhas e matam simplesmente por ser mais barato o enterro que as despesas com hospital. Não, eu não vou mais titubear, hesitar ou vacilar na hora me que estranhos precisam de mim. Vou continuar ajudando, ainda que encontre alguém intencionado em me fazer o mal. Não serei como esses seres humanos que não se importam mais com o semelhante. Vou ter moral e decência e continuar fazendo o bem sem olhar quem, do jeitinho que cresci vendo minha mãe fazer. Apesar do conflito nos sentimentos, minha virada foi muito melhor pois sabia que tinha ajudado, de forma simplória, alguém a estar naquela noite como eu, com quem amava. Percebi algo de bom nesta história e em 2012 eu quero fazer um só pedido: continuar sendo quem eu sou.
Feliz e maravilhso 2012!
=]